"Médicos Estrangeiros na Espanha: Reconhecimento sem provas, mas cheio de obstáculos"
- Janine Fortuna
- 15 de abr.
- 3 min de leitura
O que está por trás de uma homologação sem provas na Espanha?
A homologação de diplomas médicos estrangeiros na Espanha é, muitas vezes, percebida como um processo simples, sem a exigência de provas ou exames adicionais. No entanto, essa percepção pode ser enganosa. Embora o país não exija uma revalidação por meio de prova teórica ou prática, o caminho até o reconhecimento está longe de ser fácil — e os desafios continuam mesmo depois da aprovação.
O processo de homologação
Entre os anos 2000 e 2022, a Espanha reconheceu 86.194 diplomas de Medicina obtidos no exterior, sendo que 92,8%pertencem a profissionais de países da América Latina. Em 2022, por exemplo, foram 4.356 diplomas latino-americanos homologados, representando 87,3% do total naquele ano (newtral.es).
Apesar de não exigir provas adicionais, o processo pode ser extremamente demorado. Muitos médicos aguardam mais de três anos para obter o reconhecimento oficial (infobae.com), enfrentando uma burocracia lenta e exigente.
Os desafios depois da homologação
A homologação, por si só, não garante uma inserção profissional digna. Após esse reconhecimento, os médicos estrangeiros se deparam com diversos obstáculos:
Condições de trabalho precárias: Baixos salários, contratos temporários e vínculos instáveis são comuns, levando muitos a considerarem outros países como alternativa profissional (espanol.medscape.com).
Sobrecarga de trabalho: Em várias regiões há falta de médicos, o que resulta em jornadas longas, plantões frequentes e alta pressão.
Reconhecimento limitado: Muitos profissionais sentem que sua experiência anterior e formação são subvalorizadas dentro do sistema de saúde espanhol.
Situação dos médicos espanhóis
O problema não atinge apenas os estrangeiros. Os próprios médicos formados na Espanha também enfrentam condições difíceis. Apesar de uma formação que pode ultrapassar dez anos, a jornada semanal de muitos profissionais chega a 60 ou 70 horas, com plantões mal remunerados e sobrecarga assistencial. O novo Estatuto Marco, proposto pelo Ministério da Saúde, tem sido alvo de críticas por não valorizar adequadamente o esforço desses profissionais, mantendo jornadas exaustivas e obrigatoriedade de guardas (El País, Cadena SER, El HuffPost).
A escassez de médicos em várias regiões agrava o cenário:
Na Comunidade de Madrid, mais de 70% dos centros de saúde não possuem médicos suficientes, afetando cerca de 764 mil cidadãos.
Na Catalunha, faltam mais de 400 pediatras na atenção primária, e muitos atuam fora de sua especialidade devido às condições de trabalho (Cadena SER).
Êxodo crescente de profissionais
Diante desse contexto, cresce o êxodo médico. Entre 2019 e 2023, 1.685 médicos espanhóis cancelaram sua inscrição nos conselhos regionais para trabalhar no exterior. Só em 2023, foram emitidos 5.514 certificados de idoneidade profissional — exigidos para exercer a medicina fora da Espanha (theobjective.com).
França, Alemanha, Suíça, Noruega, Estados Unidos e Reino Unido estão entre os destinos preferidos, oferecendo melhores salários e respeito profissional. Mais de 8.000 profissionais de saúde deixaram a Espanha em 2023; 1.473 foram diretamente para outros países (La Vanguardia).
Histórias como a do médico de família Joan Martínez, que se mudou para a Irlanda, evidenciam esse fenômeno: lá, ele encontrou carga horária mais equilibrada, melhor remuneração e maior valorização profissional.
Mobilizações e resistência
A insatisfação resultou em protestos. Em fevereiro de 2025, cerca de 5.000 médicos protestaram em Madrid, exigindo um estatuto específico que reconheça suas particularidades laborais, redução das horas de plantão, melhores condições de aposentadoria e valorização do trabalho médico (Cadena SER, El HuffPost).
Na Catalunha, o sindicato Metges de Catalunya, por meio de seu secretário-geral Xavier Lleonart, denunciou que muitos médicos precisam de múltiplos empregos ou consideram emigrar devido aos baixos salários e à falta de valorização (El País).
Conclusão
Embora a homologação de diplomas médicos na Espanha não exija provas, o processo está longe de ser simples. A espera prolongada, as condições precárias de trabalho e a falta de reconhecimento efetivo têm afastado tanto profissionais estrangeiros quanto espanhóis. A crescente migração médica e as mobilizações nacionais escancaram um sistema que precisa urgentemente de reformas para manter seus talentos e atrair novos.
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